A VOZ DO SILÊNCIO E DA SOLIDÃO IMENSA..


A pessoa que sou é única, limitada a um nascer e a um morrer, presente a si mesma e que só à sua face é verdadeira, é autêntica, decide em verdade a autenticidade de tudo quanto realizar. Assim a sua solidão, que persiste sempre talvez como pano de fundo em toda a comunicação, em toda a comunhão, não é 'isolamento'. Porque o isolamento implica um corte com os outros; a solidão implica apenas que toda a voz que a exprima não é puramente uma voz da rua, mas uma voz que ressoa no silêncio final, uma voz que fala do mais fundo de si, que está certa entre os homens como em face do homem só. O isolamento corta com os homens: a solidão não corta com o homem. A voz da solidão difere da voz fácil da fraternidade fácil em ser mais profunda e em estar prevenida.

Vergílio Ferreira

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A Distinção Tem um Código...

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domingo, 29 de maio de 2011

MIGUEL GASPAR – PÚBLICO O poeta francês Paul Valéry escreveu um dia que a política é a arte de impedir as pessoas de se meterem nos assuntos que lhes dizem respeito...EXCELENTE CRÒNICA.... ACERTA NA MOUCHE...



O poeta francês Paul Valéry escreveu um dia que a política é a arte de impedir as pessoas de se meterem nos assuntos que lhes dizem respeito.

A frase do autor de Ensaio de uma Conquista Metódica ilustra a perplexidade dos cidadãos que vão escolher um governo cujo programa político será o mesmo, independentemente de quem vier a ganhar as eleições.
Não admira que os eleitores se sintam tão desconfortáveis nesta campanha, como se estivessem numa festa para a qual não tinham sido convidados. Um pouco como se tivessem de pedir desculpa pelo incómodo.

O que não deixa de ser um paradoxo. Nunca como desta vez estão tantas coisas em jogo para tantas pessoas. O memorando da troika, se vier a ser aplicado, vai virar o país do avesso e mudar nossa forma de viver. Se não vier a ser aplicado, então estaremos condenados ao mesmo remédio que os gregos estão a sofrer.

Por outras palavras, os cidadãos comuns não fizeram nada para desencadear esta crise, cujo preço estão e vão continuar a pagar. E, ao mesmo tempo, não têm capacidade para influenciar as decisões que vão moldar o seu futuro.

Este sentimento de impotência reconduz-nos à citação de Valéry: nesta eleição, o essencial é impedir os eleitores de decidirem o que lhes diz respeito.

Por isso, em vésperas do início desta campanha eleitoral sem precedentes, talvez faça sentido reflectir mais sobre a forma como a crise económica está a limitar o exercício da democracia do que nas pequenas tácticas do dia-a-dia de campanha.

Não é uma novidade os mercados condicionarem a capacidade das nações em decidirem quanto ao seu futuro. Essa realidade já existia no século XIX. Mas o maior risco que corremos ao subirmos para o barco da troika é não reflectirmos sobre as causas desta fragilização do sistema político.

Em “Inside Job” – o antológico documentário sobre a crise financeira de 2008 – o realizador Charles Ferguson explica-nos como Wall Street passou a dominar o poder político na América. Mas em países como o nosso, o poder político também se tornou refém do mundo dos negócios.

E o que tem isto a ver com a crise da dívida? Apenas que ao longo dos anos a promiscuidade entre a política e os negócios e a fragilidade do sistema político perante os grupos instalados em todas as áreas da sociedade reduziu os governos a meros gestores dos seus interesses e de outros interesses.

Como os gestores loucos de Wall Street, os governos que pensam assim só podem sobreviver se assumirem que o edifício nunca se desmoronará, mesmo se as suas fundações forem virtuais.

Precisávamos de mudar a forma como fazemos a política e como os cidadãos se envolvem na política – as manifestações dos últimos dias em Espanha mostram claramente como a política deixou de conseguir falar com a rua. Mas por enquanto só temos uma campanha eleitoral – uma campanha com a troika. Façamos o possível para que ela nos diga respeito.



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