A VOZ DO SILÊNCIO E DA SOLIDÃO IMENSA..


A pessoa que sou é única, limitada a um nascer e a um morrer, presente a si mesma e que só à sua face é verdadeira, é autêntica, decide em verdade a autenticidade de tudo quanto realizar. Assim a sua solidão, que persiste sempre talvez como pano de fundo em toda a comunicação, em toda a comunhão, não é 'isolamento'. Porque o isolamento implica um corte com os outros; a solidão implica apenas que toda a voz que a exprima não é puramente uma voz da rua, mas uma voz que ressoa no silêncio final, uma voz que fala do mais fundo de si, que está certa entre os homens como em face do homem só. O isolamento corta com os homens: a solidão não corta com o homem. A voz da solidão difere da voz fácil da fraternidade fácil em ser mais profunda e em estar prevenida.

Vergílio Ferreira

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A Distinção Tem um Código...

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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Os Meios de Comunicação Têm Sempre Razão ...E NÓS ENGOLIMOS QUE NEM PATOS....




A dominação intelectual é difícil se não dispomos de uma tribuna mediática. Em vez de perdermos longos anos a reflectir sobre o sentido da vida, as relações entre homens e mulheres, a influência da alimentação transgénica na produção leiteira das vacas normandas (conheço um investigador que passou quarenta anos a estudar as térmitas; admite não ter conseguido desvendar-lhes o segredo que, no seu entender, existe!) ou qualquer assunto mais ou menos relacionado com o destino da Humanidade, mais vale começarmos por arranjar meios de aceder à redacção de um jornal ou, melhor, de um canal televisivo. Com efeito, é a importância do meio de comunicação em termos de audiência que determina a supremacia de uma opinião. Qualquer tolice catódica emitida entre as 20 e as 20:30 horas é mais credível que a conclusão amadurecida de um colóquio de especialistas. Porquê mais credível? Porque mais acreditada.O público aprecia a confirmação de que é verdade aquilo que sente como verdadeiro (por exemplo, que os políticos são podres ou que a Madonna é a mulher mais sensual do mundo). Este género de opinião, no entanto, só passa a ser uma evidência depois de ter sido santificado por um meio de comunicação. O que a televisão realiza ao seu nível simplista é o mesmo que a imprensa faz a um nível por vezes mais subtil e para um público mais desperto. Para ter razão, precisamos, pois, de dispor de uma audiência ou de ver corroborada a nossa opinião por uma instância. Ter razão é um problema de comunicação, em que a arte de persuadir não tem importância por comparação com o lugar e o canal que permitiu que a mensagem atingisse o público.
Partindo desta constatação que figura em todos os abecedários da sociologia contemporânea, os espíritos alertas e estudiosos deveriam abandonar os seus gabinetes e juntar-se à coorte de especialistas mediatizados. Eles que comecem por ocupar bons lugares na imprensa que haverá sempre tempo, depois, para determinar o conteúdo das opiniões que lhes permitirão ter razão contra os seus colegas, encerrados nos seus laboratórios ou bibliotecas.


Georges Picard, in "Pequeno Tratado para Uso Daqueles que Querem Ter Sempre Razão"

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